sábado, 3 de julho de 2021

Opinião sobre as mudanças da Panini no mercado brasileiro

   Eu escrevo aqui a minha opinião como consumidor dos mangás da Panini desde que ela começou no mercado brasileiro de mangás.


  "Começando pelo começo", desde que a Panini se instalou no Brasil ela nunca publicou seus próprios mangás. A Panini é uma empresa multinacional de origem italiana e desde que ela chegou no Brasil quem colaca mesmo a "mão na massa" é a editora nacional Mythos. Desde quando esse blog começou, 10 anos atrás, minha admiração sempre foi da equipe do Planet Mangá que trabalha na Mythos. O Planet Manga é o selo de mangás da editora Panini no Brasil.

  Então vamos entender direito: A Panini é uma empresa italiana multinacional que terceirizou a editora Mythos (nacional) para fazer todo o trabalho de editoração dos seus mangás no Brasil com o selo Planet Manga, além disso a Mythos também é responsável pelas equipes que trabalham nos títulos da Marvel e da DC no Brasil. Os funcionários reais da Panini no Brasil são apenas as pessoas que trabalham no escritório, conforme qualquer pode ver se olhar a ficha técnica  que fica nas últimas páginas dos mangás (geralmente a última página).

 A equipe da Mythos contrata tradutor, editor e assistentes que vão trabalhar na produção do mangá propriamente dito. Eles podem sugerir que títulos trazer para o Brasil, mas a decisão é dos funcionários da Panini. Muitas vezes a Panini internacional licencia um título para vários países do mundo de uma só vez, então algumas escolhas de lançamentos vêm direto da matriz.



  A Panini começou de forma pequena no Brasil, naquela época o mercado era dominado pela Conrad (que faliu e depois virou um selo para depois sumir de vez) e pela JBC. Naquela época os mangás eram lançados em formato "meio-tanko". O volume original era dividido em dois volume de mais ou menos 100-80 páginas e ganhava capas originais criadas com base em ilustrações coloridas licenciadas da obra. Já chegou até à situação de faltar imagens originais para ilustrar a capa de "meio-tanko". Se eu não me engano a situação aconteceu com Berserk.

  A Panini começou lançando Gundam Wing, depois lançou Peach Girl e Eden que foram cancelados. Posteriormente a JBC licenciou Eden e lançou a obra completa em um formato especial. O primeiro mangá a ser lançado em formato original pela Panini foi Lobo Solitário (Kozure Okami).

 Na época os consumidores reclamavam muito do preço dos mangás tankoubons, achavam muito caro pagar cerca de R$10 em um mangá. Até então os mangás eram lançados no formato "meio-tanko" em papel jornal de baixíssima qualidade. Muitos conhecidos meus relambram das memórias de comprar mangás com o "dinheiro da merenda". Era tudo muito barato e as pessoas costumavam comprar todos os títulos disponíveis nas bancas. Qualquer mangá lançado se tornava sucesso imediato, ou quase, os mangás que a Panini lançou foram cancelados. Mas nessa época as editoras achavam que qualquer mangá lançado venderia tanto quanto Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, os carros-chefes da Conrad. Mas isso não aconteceu com esses primeiros títulos lançados pela Panini no Brasil, eram os primeiros mangás lançados no Brasil que não tinham tido desenho animado lançado na tv aberta.

 

  Mesmo assim a Panini continuou insistindo no Brasil e foi a primeira editora a apostar no formato tankoubon. Todos os títulos lançados pela Panini a partir de 2006 respeitavam o formato original de lançamento no Japão.

  Apesar de tudo a Panini ainda engatinhava no Brasil e raramente conseguia os títulos realmente grandes. Os maiores sucessos do mercado japonês ficavam na mão da Conrad (que à época já estava falindo por conta de escolhas editoriais duvidosas). Até que em 2007 tudo mudou, a Panini finalmente conseguiu licenciar dois dos seus maiores sucessos de todos os tempos: Naruto e Bleach! Naruto saiu em maio e Bleach em julho de 2007.

  Com o sucesso de suas novas licenças a Panini tinha dinheiro em caixa para realizar o plano de dominar o mercado editorial de mangás brasileiro. A Panini começou a lançar muitos títulos. TÍTULOS DEMAIS!! O otaku brasileiro que comprava todos os lançamentos de mangás já não conseguia comprar tudo e teve que passar a escolher quais títulos comprar, o que é lógico que acarretou em alguns "hiatus" e cancelamentos. Alguns títulos como Homunculus sumiram durante muito tempo, mas voltaram com periodicidade "estranha" e reajuste de preço em quase todas as edições, além disso eram difíceis de encontrar em bancas de cidades menores.


  O que me tornou fã dos mangás da Panini à época era a grande diversidade de títulos. Nós tínhamos shounen de batalha, comédia romântica, shoujos diversos, até mesmo um shounen ai (Princess Princess - 5 volumes). A Panini experimentava com o mercado para saber o que vendia, enquanto a concorrente da época, a JBC focava nos shounens de batalha com anime de sucesso, shoujos de imenso sucesso e Clamp.

  Se formos avaliar os lançamentos de mangás, em 2009 a Panini lançou 12 títulos, sendo 2 shounens (Claymore e D. Gray-Man), 2 seinens (Abara e Afro Samurai), 1 josei (Honey & Clover), 6 shoujos (Otomen, Eensy Weensy Monster, Ultramaniac, Marmalade Boy, Aishiteruze Baby, Blood + Adagio) e Blood + Yakou Joushi que apesar de não conter nenhum romance explícito entre dois homens foi publicado em uma revista que lança yaois, a Asuka Ciel. Aliás, preciso comentar que essa foi uma das melhores levas de mangás que a Panini já lançou em um ano. 

  Apesar dessa leva fazer parecer que a Panini estava lançando mais shoujos do que shounens, a maioria desses mangás eram títulos curtos, entre 5 e 7 volumes, um de 2 volumes e um volume único. Enquanto títulos como Naruto apareciam nas bancas com 10 ou 15 volumes, os shoujos apareciam com um ou dois volumes por banca.

  Em 2010 a Panini já sufocava as bancas, enquanto a JBC focava nos mangás famosos com animês populares no Brasil (a maioria através de fansubs), a Panini atirava por todos os lados e "inundava" as bancas, como a gente falava através do Orkut nessa época. Em 2010 foram 19 lançamentos novos (sem contar os mangás "eternos" que foram lançados anos antes e que continuavam indo para as bancas). Sendo 10 shoujos, sem um espaçamento entre os lançamentos, com inclusive 4 shoujos sendo lançados no mês de julho e mais três séries nos meses seguintes.

  É preciso notar que enquanto os colecionadores de shounen mangá variavam, escolhiam títulos diferentes, as pessoas que compravam shoujos colecionavam praticamente todos os títulos que eram lançados e comprar 6 séries de duração medianas ao mesmo tempo, além dos shoujos de 2 volumes acabava saindo pesado para o bolso e a editora percebeu isso, tanto que no ano de 2011 saíram apenas dois shoujos longos (Kimi n Todoke (30 volumes)e Kaichou wa Maid-sama!(18 volumes)) e um curto (Contos de Amor Para Você) além do josei de batalha 07-Ghost).


  A partir daí a Panini cortou os shoujos e joseis dos seus lançamentos. Em 2012 a Panini lançou apenas Mad Love Chase, que era um título "velho", ou melhor dizendo, "datado" que não interessou muita gente. Ao mesmo tempo a Panini parou de lançar títulos seinen diferentes e focou apenas em shounens de porradaria, ecchi e obras de autores renomados.

  Desde então a Panini lança cada vez menos shoujos e simplesmente parou totalmente com os shoujo e com títulos obscuros, mas com boas histórias que poderiam agradar a um público diferenciado.


  Com o relançamento de Paradise Kiss pela Panini (inclusive estou esperando o meu chegar) esse ano de 2021 temos o primeiro mangá direcionado ao público feminino (Parakiss é um josei) desde 2019 com Vampire Knight Memories e desde antes disso temos tido em média um shoujo a cada dois anos pela Panini. Se Paradise Kiss se sair bem nesse relançamento (eu já tenho a coleção da Conrad, mas o acabamento é péssimo e resolvi fazer a assinatura da coleção nova) espero que a Panini se interesse por diversificar mais o seu catálogo de mangás.

  Através dos anos a Panini se tornou a nova JBC focando o seu catálogo em mangás direcionados ao público masculino, em especial shounen de batalha e ecchi. Os mangás mais diferentes têm sido lançados pela Pipoca e Nanquim, já a Newpop tem lançado clássicos dos mangás e alguns romances interessantes e está finalmente crescendo e ocupando a espaço que era da JBC. Enquanto isso a JBC sumiu das bancas e tem lançado cada vez menos títulos sendo que os principais títulos do mercado têm sido lançados pela Panini.

  Minha opinião particular é que o mercado atual de mangás é triste. Existe infelizmente um monopólio nas mãos da Panini. Temos pouca diversidade de títulos. Praticamente não vemos mais mangás nas bancas. Por um lado é lindo vermos edições caprichadas, mas será que realmente é necessário lançar títulos da Jump por R$30? Por mais que existam adolescentes que gostem de animês, eles não conseguem comprar mangás porque o preço é absurdo para eles. É proibitivo comprar uma série da Jump com esse preço atual. Infelizmente mangá virou um produto para adultos com dinheiro de sobra para dar R$30 em um produto que é feito pensando em pré-adolescentes e adolescentes no Japão. E isso é graças ao monopólio da Panini e da Amazon.

Nenhum comentário: