segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Recomendação: Diário de uma Mankichi


  Esse post de agora é para recomendar o blog da tradutora de mangás Karen Kazumi Hayashida (espero que eu possa chamá-la de amiga) Diário de uma Mankichi. A Karen escreve sobre sua vida e suas recomendações de mangás, animês e doramas nesse blog.

  Para quem não liga o nome á pessoa a Karen é a tradutora responsável pela tradução de vários mangás das Editoras Panini (Colégio Ouran Host Club, Eureka Seven, Sugar Sugar Rune, Rockin' Heaven) e da Editora JBC (Fullmetal Alchemist, .Hack, D.N.Angel, Saint Seiya: The Lost Canvas), a Karen também já traduziu um dorama (me desculpem, mas eu não lembro o nome) e alguns animês (eu sei que ela traduziu uns episódios de Cavaleiros do Zodíaco [não sei se foi da Fase Elísios ou Hades] e Dragon Ball Kai).

  É isso, vale a pena dar uma olhada lá.

P.s. Ela também desenha, é de autoria dela a ilustração que enfeita esse post.

[Resenha]Bem-vindo à N.H.K.!

  Welcome to the N.H.K. é uma série de mangá desenhada por Kendi Oiwa (Ou Kenji Ooiwa) baseada na Novel (livro) de autoria de Tatsuhiko Takimoto. A novel foi publicada em 28 de janeiro de 2002 e conta com apenas um volume, o mangá foi publicado de 24 de junho de 2004 até 06 de junho de 2007, foi compilada em 8 volumes tankoubon e ganhou uma adaptação em anime do Estúdio Gonzo com 24 episódios que segue os 16 primeiros capítulos do mangá e depois toma um rumo diferente.

  A obra trata de temas polêmicos como o problema social dos hikikomori, vício em drogas, lolicon etc. Por incrível que pareça é um mangá shounen (saiu na Shounen Ace da Kadokawa Shoten), mas podemos dizer que ao mesmo tempo é um mangá muito mais maduro que obras que são feitas para o público "adulto" Elfen Lied.
  O protagonista da história é Tatsuhiro Sato, um hikikomori de 22 anos. Aliás, o que é um Hikikomori? A tradução para o termo é isolado doméstico e é usado para pessoas que geralmente por conta de um fracasso em suas vidas sociais (perda de namorad@, não passar no vestibular, ficar desempregado) acabam se isolando do mundo vivendo sem sair de casa em um confinamento voluntário. Se trata de uma doença mental muito séria, um dos países com maior taxa de hikikomoris é o Japão, a cultura social por lá acaba ajudando a formar hikikomoris já que as pessoas não costumam se intrometer muito na vida um dos outros e já são culturalmente mais isolados do que a maioria das outras culturas.
  Voltando ao mangá, Tatsuhiro Sato descobre que sua fonte secou, dois anos depois de trancar a faculdade e quatro anos realmente isolado em casa seus pais cortam a sua mesada, nesse meio tempo por causa de seu isolamento a comunicação interpessoal regrediu e não só ela, boa parte de suas habilidades sociais piorou e ele já não sabe se portar em público direito quando ele percebe que se quiser sobreviver vai ter que voltar a trabalhar, mas ele não tem coragem pra isso e prefere ficar em casa usando as drogas que ele compra pela internet.
  Durante uma viagem de cocaína ele tem um delírio e começa a achar que os seus móveis falam e por causa da paranóia começa a achar que a N.H.K. (Nihon Housou Kyoukai - Sociedade de Radiodifusão do Japão) na verdade é Nihon Hikikomori Koyukai (Sociedade dos Hikikomori do Japão), que a rede de televisão que exibe vários animês de alta qualidade é na verdade uma organização secreta do mal culpada por tornar as pessoas hikikomoris.
  Daí então ele tenta um emprego na rede de tv, para se infiltrar em território inimigo, mas chegando lá ele reconhece na recepção uma garota que tentou distribuir panfletos "evangélicos" (até no Japão existe isso ~_~U) e com suas limitadas habilidades sociais não consegue dizer nada que faça sentido para a coitada e sai envergonhado.
  Ao voltar para casa o vizinho pentelho da quitinete ao lado que ele nunca viu na vida está tocando músicas de anime no volume máximo, parece uma provocação e ele derruba a porta do cara pra tirar satisfações, é quando ele descobre que o vizinho é um conhecido dos tempos de escola e companheiro de "otakice", o cara acaba tornando o que já era ruim em algo pior ao apresentar para Tatsuhiro a infame perversão chamada: lolicon. Ao mesmo tempo a garota da N.H.K. vai ao apartamento dele dizer que ela quer que ele seja sua cobaia em um projeto para tratar os hikikomoris.

  A história é bem bacana, a leitura é rápida, os personagens são bem bacanas (mas também é bem fácil odiá-los). É muito bom sair do estereótipo dos mangás shounen de sempre e ter algo bem diferente do habitual como uma opção de leitura. O traço do mangá é bem particular e bonito, o autor organiza muito bem as páginas e a leitura é rápida e fluida. Outro lado positivo é que fala sobre a cultura otaku e não a glorifica, mostra o lado mais sujo e doente e como as pessoas podem precisar de ajuda - E não me entenda mal, quando se fala de otaku de verdade significa que estamos falando de pessoas que são obcecadas por determinados assuntos, podendo ser ou não relativo a animes e mangás. A expressão otaku aqui no ocidente foi erroneamente interpretada como fãs de anime, mas um otaku de verdade é muito mais que um simples fã.

  O ponto negativo da história é a falta de seriedade com que trata o tema pedofilia. Otakus podem ser patéticos, eles são em boa parte do tempo, mas certas coisas não devem ser tratadas com tanta "leviandade", como a pedofilia foi tratada no mangá. Quando o Tatsuhiro sai com uma máquina fotográfica na mão para tirar fotos de meninas de 12~13 anos saindo de um colégio, isso não foi engraçado, pode ter sido patético, deprimente, mas é algo bem sério e na minha humilde opinião faltou um aviso bem grande por parte da Panini de que fazer isso é um crime grave. Por sorte os outros personagens do mangá conseguem passar a mensagem de quanto isso é feio, nojento e danoso. Ao mesmo tempo o Yamazaki, companheiro de otakice do Tatsuhiro diz que pedofilia é ok enquanto for apenas pedofilia em mangá ou anime. Não, isso não é ok, pedofilia em mangá ou em anime é crime no Brasil e se você tiver material desse tipo (lolicon, shoptacon, toddlercon) armazenado na memória do seu computador, gravado em dvd ou mesmo impresso em papel pode ser preso a qualquer momento (outro aviso que a Panini deveria ter colocado no mangá).
  A edição do mangá está ótima (a Panini costuma sempre dar um banho nas concorrentes nesse quesito), a adaptação ficou bem bacana, manteve os sufixos honoríficos e ao mesmo tempo tem um texto fluido e sem ruídos. O glossário está ótimo e se o verbete Hikikomori é pequeno é porque o termo é largamente discutido durante o mangá, afinal essa história trata deles. A capa é igual à original na frente e no verso com um resuminho da história no verso (viram só, a Panini aprendeu).

  No geral é um ótimo mangá, desconsiderando as diferenças culturais entre japoneses e brasileiros, esse é um mangá que nos leva a refletir e faz a gente lembrar daquelas pessoas que a gente conhece pela internet e que estão se transformando aos poucos em legítimos hikikomoris. Eu recomendo esse mangá para qualquer pessoa que se considere um fã de mangá (eu falo de fã de verdade, não de gente que lê apenas shounens porradeiros), é um dos melhores títulos já lançados no nosso país, tem um traço muito bacana, um roteiro ótimo, a organização e clareza do conteúdo é excelente também.

Título: Bem-vindo à N.H.K.
Autores: Tatsuhiko Takimoto (roteiro) e Kendi Oiwa (arte)
Demográfico: Seinen Shonen
Gênero: Comédia, Slice of Life
Tamanho: 13 x 18cm, cerca de 190 páginas
Duração: 8 Tankoubons
Preço: R$9,90
Periodicidade: Bimestral (??)

domingo, 16 de janeiro de 2011

[Resenha] Elfen Lied

  Elfen Lied de autoria de Lynn Okamoto foi originalmente lançado em capítulos na revista seinen Young Jump (casa de Gantz) e posteriormente coletado em 12 volumes tankoubon. A série foi publicada entre Junho de 2002 e Agosto de 2008 e entre 25 de Julho de 2004 e 17 de Outubro de 2004 um anime baseado na obra produzido pelo Estúdio ARMS foi exibido.
A capa engana, o traço é um lixo...
  O sucesso do anime, principalmente devido à divulgação pirata pela internet é o responsável por esta ser uma obra lançada por todo o mundo por diversas editoras diferentes. No Brasil a série está sendo lançada pela Editora Panini depois de anos de pedidos de fãs - aqueles que acompanham as comunidades das editoras de mangá no orkut devem se lembrar que esta era uma das obras mais pedidas pelos fãs de anime.

  Como o anime da série foi produzido alguns anos antes do final da publicação da série em mangá há várias diferenças entre as duas versões, a mais notória delas é o final. No mangá há mais explicações sobre a "biologia" das Dicornius, também há várias personagens que foram cortadas da versão animada.

  A série animada é composta por 13 episódios mais um OVA situado antes do final da trama, outra grande diferença entre o mangá e o anime é que aqueles que conhecem a história através do anime ficam pasmos com a falta de qualidade do traço. Para dizer o mínimo o traço do mangá é amador, com personagens estáticos e expressões faciais limitadas.
Ilustração da abertura do anime que imita a arte de Gustav Klimt

  A história começa com a Dicornius Lucy fugindo de um centro de pesquisas governamental de segurança máxima, com o descuido de um dos guardas Lucy consegue fugir, ela é uma Dicornius, no mangá os Dicornius são a evolução do homem atual, eles possuem a glândula pineal muito maior que o normal, um par de chifres (que parecem mais orelhinhas moezeiras, clichê do ecchi), força acima do normal (ela consegue arrancar a cabeça de uma pessoa com as mãos nuas) e a habilidade de telecinese através dos "vetores", os vetores são como braços invisíveis cujo comprimento varia de acordo com a força da(o) Dicornius.
  Ao mesmo tempo que Lucy foge do centro de pesquisas, o jovem Kouta chega à cidade de Kamakura em Kanagawa (enfim um mangá que não se passa em Tóquio). Kouta não conseguiu passar no vestibular da maioria das faculdades e só consegue entrar para uma das faculdades dessa região, então ele se muda para Kamakura para ficar hospedado na casa de parentes. Na estação ele reencontra com sua prima Yuka que não vê há oito anos, desde que uma tragédia aconteceu em sua família, ele não reconhece a prima que fica chateada com isso por ser apaixonada por ele desde criança (clichês do ecchi...). Os dois seguem caminho e passeiam pela praia, lá eles encontram com Lucy.
  Lucy está nua na primeira vez que eles se encontram (clichê ecchi) e por causa de um tiro que levou na cabeça durante a fuga também está desmemoriada (mais um clichê moe-ecchi) e só consegue dizer "Nyu", o que vai passar a ser como ela será chamada durante a série (é impressão minha ou há alguma semelhança com a Chii de Chobits? E nessa hora o alarme moe-ecchi já disparou). Kouta cobre a garota despida com a sua camisa e os primos resolvem acolher a moça desmemoriada, eles vão para a casa que será o lar de Kouta, um Ryoutei (espécie de restaurante de luxo cheio de salas privadas) que pertence à família de Yuka e que Kouta terá que cuidar enquanto estiver morando lá (afinal sai mais barato colocar um jovem universitário para cuidar de uma mansão do que pagar um caseiro). Por diversos motivos Lucy acaba morando com Kouta na casa imensa e para não deixar o primo sozinho com uma moça desmemoriada Yuka resolve se mudar pra lá também. Com o desenvolver da história várias garotas em situações problemáticas acabam se mudando para a pensão Hinata casa onde Kouta vai morar e o passado de Kouta, Yuka e Lucy começa a ser revelado mostrando que os três têm uma ligação mais forte do que eles sabem.

  A história de Elfen Lied não é nenhum primor, muito pelo contrário, é uma sucessão dos clichês que a gente costuma ver nos ecchis em geral. A trama foi feita pra deixar a gente com dó e sentir empatia pelos personagens. O passado dos personagens é tão trágico que parece até história de novela mexicana, tudo é feito para atrair a simpatia do leitor, as situações mais bizarras acontecem o tempo todo, pode acreditar que o autor apelou pra todo tipo de situação embaraçosa capaz de ser imaginada.
  O traço do mangá é uma titica, uma das características que define o que é mangá é a expressividade, a dinâmica das sequências, mangás são como story boards cinematográficos, alguns mangás são tão bem desenhados que você tem a impressão que os personagens estão prestes a se mover pelas páginas, em Elfen Lied é o inverso, é tudo estático e paradão. Eu desconfio seriamente que o autor deve ter aprendido a desenhar com aqueles livrecos que "ensinam a desenhar mangá" quando resolveu desenhar Elfen Lied, o traço é tão fraco que nem dá para comparar com nada (só com fanzine brasileiro), falta personalidade no traço do Lynn Okamoto, a única coisa que demonstra alguma personalidade é que ele tem uma tendência ao "chibi", todo mundo tem olhos enormes e parece feito sob medida para virar bonequinho de PVC.
  A edição da Panini está boa, há erros sim, mas são poucos, as onomatopeias foram mantidas e estão devidamente 'legendadas", no final do mangá há o glossário com explicações sobre os termos mais complicados e os sufixos de tratamento foram mantidos. A capa da frente é igual à original japonesa, mas na capa japonesa não há ilustração no verso e aqui a Panini optou por repetir a mesma imagem dos dois lados. Um problema aqui é que o aviso de que o mangá é recomendado para maiores de 16 está muito pequeno e escondido e eu soube que muita gente acabou comprando esse mangá cheio de ecchi e violência para crianças pequenas por causa da capa (bem-feito, quem manda julgar o livro pela capa).

  Enfim, esse mangá é um Guilty Pleasure, você se sente culpado por ler algo tão tosco feito sob medida para manipular seus sentimentos, cheio de uma profundidade falsa. Esse mangá um dramalhão raso cuja única finalidade é colocar garotas fofinhas em situações humilhantes e sofridas usando como desculpa o fato delas terem nascido como uma mutação genética. Esse mangá é tão tosco, mas tão tosco que você sente culpa por gostar de algo assim, mas é tão ruim que acaba viciando, é como assistir a A Usurpadora, uma sucessão de clichês com frases de efeito que de tão ruim acaba por divertir e fazer a gente querer mais.

Título: Elfen Lied
Autor: Lynn Okamoto
Demográfico: Seinen (??)
Gênero: Ação/Ficção Científica/Erótico/Violência/Comédia
Formato:13,7 x 20cm, 220 páginas em média.
Duração: 12 Tankoubons (concluído)
Preço: R$9,90
Periodicidade: Mensal (??)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

[REVIEW]Trigun

  Trigun Maximum é um mangá criado por Yasuhiro Nightow, a série passou por diversas dificuldades durante o seu período de publicação e curiosamente mudou até de demográfico (a série começou a ser publicada em uma antologia shonen e foi transferida para uma antologia seinen durante a publicação).

  Yasuhiro Nightow é um fã confesso dos quadrinhos e da cultura estadunidense, só de olhar para o visual do mangá dá para se notar a grande influência dos filmes de faroeste. Apesar de ser um mangá sobre pistoleiros a verdadeira mensagem por trás desse título é de paz e amor, o personagem principal, Vash, apesar de causar destruição pelos lugares onde passa nunca deixa de pregar o diálogo e valores como paz e amor (inclusive ele sempre faz aquele sinalzinho cafona dos hippies ¬¬).

  A série primeiramente foi publicada na antologia Shounen Captain da Tokuma Shoten, o título foi publicado durante três anos nessa antologia e os coletados em três volumes tankoubon, entretanto a revista foi cancelada e o mangá "cancelado", só que logo Nightow foi contratado por outra editora, a Shounen Gahousha, através de negociações o mangaká pode continuar com o seu mangá, mas para isso ele precisou mudar o título para Trigun Maximum. Apesar dos títulos diferentes (mera questão jurídica) é o mesmo mangá e as diferenças são mínimas, o traço do autor mudou e o mangá ganhou um tom mais sombrio, talvez isso se deva ao fato do mangá ter sido continuado na Young King Ours que é uma antologia Seinen. Posteriormente a Shounen Gahousha adquiriu os direitos da série Trigun e relançou os três primeiros volumes da série em uma edição especial de dois volumes.

  Ao todo a série foi publicada de 1995 até 1007, o mangá foi lançado em muitos países, pela Dark Horse nos Estados Unidos, pela Carlsen Comics na Alemanha, Editions Tonkam na França entre vários outros.

  Aqui no Brasil a publicação de Trigun deu muita complicação, primeiro a Panini lançou a série Trigun em formato normal, mas a Shounen Gahousha reclamou e o mangá foi recolhido e re-lançado no formato devido (os famosos "tijolões), quem comprou a série no "formato errado" teve direito de trocar pelos então chamados tijolões, o recall durou quase um ano e mesmo assim muita gente perdeu o prazo pra trocar o mangá. Mas a novela não parou por aí, a Panini levou bastante tempo entre a publicação dos mangás, por exemplo, conferindo meus tijolões da série Trigun vi que o primeiro volume foi lançado em Julho de 2007, já o primeiro volume de Trigun Maximum foi lançado em Agosto de 2008. Durante esse intervalo de lançamentos muita gente achou que a editora japonesa tinha se aborrecido com a lambança feita pela Panini e não teriamos a série Trigun Maximum lançada, mas ela veio, demorou, mas foi lançada. O mangá Trigun Maximum foi lançado "normalmente" todos os meses até o volume 4 em novembro de 2008, depois disso o volume 5 só foi aparecer em nossas bancas em fevereiro de 2009, muita gente achou que a série tinha sido cancelada, e com razão (cof, cof, Seton e Dama de Pharis, cof, cof), o lançamento do volume 6 só aconteceu em Setembro de 2009, seis meses depois, muitos boatos sobre a demora no lançamento correu nas redes sociais, mas a verdade é que a Panini concluiu o lançamento do título, a duras penas, mas concluiu. A Panini chegou até a subir o preço do mangá a partir do volume 10, o mangá que custava R$9,90 passou a custar R$11,90, isso provavelmente pela quantidade de páginas dos encadernados aumentar muito nos volumes finais (a partir do volume 10 a maioria dos volumes de Trigun Maximum têm 240 páginas, o 13 tem 280 páginas e o 14 cerca de 270). Para surpresa geral a Panini colocou páginas coloridas na cena final da série.

  Além do mangá, o anime foi exibido na televisão brasileira pelo canal por assinatura Cartoon Network (em um horário péssimo durante a madrugada) e pelo braço da Bandeirantes, PlayTV no bloco Otacraze (a PlayTV chegou até a sair do ar por uns tempos, essa série realmente tem uma urucubaca...).
  Voltando ao mangá, ele conta a história do pistoleiro pacifista Vash The Stampede (conhecido aqui como Vash, o Estouro da Boiada) e seu conflito com o seu irmão gêmeo, Million Knives. A história se passa no futuro, a humanidade está colonizando o espaço e manda naves com colonos para encontrar planetas habitáveis por seres humanos, a tecnologia já se desenvolveu muito e para gerar energia eles usam híbridos chamados de "usinas", esses híbridos têm uma aparência humanóide, mas não têm uma consciência, noção de "eu" propriamente dito, eles foram criados apenas para gerar energia. Só que algo estranho acontece e uma dessas usinas, ou plantas como também são chamadas, dá a luz a dois meninos gêmeos durante a viagem. A única pessoa acordada se chama Rem Saverem e ela cria esses dois meninos como se fossem seus filhos, essas crianças diferente das outras crescem muito rápido e em cerca de seis meses eles já estão tão desenvolvidos quanto crianças entre seis ou oito anos. Em um dado momento esses meninos descobrem que eles não foram as únicas crianças a nascerem de plantas, uma menina já tinha nascido antes e ao invés de ter sido criada como eles foram criados, ela foi usada como cobaia pelos cientistas da nave (que estão hibernando nesse ponto da história) até a morte, eles ficam chocados com esses arquivos, Vash se revolta, já Knives finge que não viu nada. Depois de algum tempo quando a situação já parecia normalizada Knives tenta destruir a humanidade, ele havia percebido que não há como humanos e Plantas conviverem pacificamente, para ele a solução era exterminar os seres inferiores, os humanos. Com a sabotagem de Knives sobra apenas uma nave da frota e é essa nave que irá fazer um pouso forçado no planeta desértico onde essa colônia humana será obrigada a se estabelecer provisoriamente. Para salvar a nave Rem sacrifica sua própria vida e com isso Vash herda os seus ideais pacifistas, que muitas vezes poderão soar hipócritas, falsos, mas que é a única forma que a humanidade poderá sobreviver em um mundo tão hostil.

  A história toda se passa em um clima de velho oeste, todo mundo luta com armas, os ideais do protagonistas são colocadcos em cheque o tempo todo, por mais ridículo e babaca que o Vash possa ser ele tenta sobreviver sem matar ninguém, seja lá qual for a atrocidade cometida pela pessoa com quem ele precisa lutar. O mangá é recheado dessas situações, uma hora o Vash falando com Wolfwood (o Padre) diz que ele desiste fácil demais, que sempre há uma solução, que matar não é a solução, nisso Wolfwood responde que nem todos são como o Vash, que as pessoas que não são sobre-humanas precisam matar se quiserem sobreviver. O mangá é reflexivo em quase todos os momentos, mas ainda assim não cai na pieguice, não é só um discurso vazio, apesar de ser um mangá de ficção científica, ele nos leva a refletir sobre nós mesmos sem nunca se tornar demagogo. Vash e Wolfwood são dois lados diferentes da mesma moeda. Se um simboliza os ideais de paz o outro simboliza a realidade.

  O mangá é recheado de cenas de ação de tirar o fôlego, os vilões da Gung Ho Gun têm habilidades incríveis e é uma pena que nem todos tenham tido a oportunidade de aparecer na animação, é realmente triste isso. Muitos duelos sensacionais e personagens soberbos ficaram de fora do conhecimento do grande público.

  Como esse é um review da série eu deveria poder dar spoilers tranquilamente, mas minha consciência fica pesada mesmo assim, em um dos momentos finais da série quando Knives já se fundiu com quase todas as Plantas do planeta para poder usar seus poderes e as chances da humanidade do planeta sobreviver são quase zero a única coisa que pôde salvar as pessoas foi o diálogo entre Seres Humanos e Plantas. Querendo ou não essas duas espécies tão distintas dividem o mesmo planeta e os seres humanos precisavam do poder das plantas para sobreviver, foi com o diálogo que a situação foi resolvida, só com a cooperação as duas espécies puderam voltar a prosperar. Isso é uma das várias mensagens espalhadas na trama que pode ser lida em várias camadas e aplicada nos dias de hoje, hoje em dia as pessoas se toleram muito pouco e é necessário diálogo, nós dividimos o planeta e mesmo assim não paramos de entrar em conflito, seja com nossos vizinhos, seja com pessoas de outras religiões ou com outros países. O autor não erra quando diz que a única esperança para a humanidade é a diálogo. Só o diálogo e cooperação entre os vários países do nosso mun do será capaz de nos assegurar um futuro, só a harmônia do homem com a natureza pode nos trazer um amanhã.
  Além das leituras já abordadas podemos também pensar nas Plantas como a natureza, o homem depende da natureza, mas ele só a destrói e a usa sem pensar em manejamento sustentável, em um equilíbrio. Não é a toa que vemos tantos desastres naturais (aliás, acabou de acontecer um em nosso País), a maioria deles é fruto da exploração impensada do homem que escraviza a natureza ao seu bel prazer.

  É claro que nem tudo são flores, apesar de tantas mensagens interessantes, conflitos épicos a leitura do mangá pode ser um saco. O motivo é que o autor é um P-O-R-C-O!! As páginas são escuras, entupídas de retículas, as cenas que são cheias de ângulos interessantes são confusas, muito confusas, um quadro vemos dois pistoleiros frente a frente, no quadro seguinte há um pé significando que alguém saltou,mas até você leitor compreender isso... O autor é tão desleixado e bagunçado que torna uma tarefa muito cansativa entender o que se passa nas cenas, em alguns quadros é até melhor desistir e passar para a próxima cena por causa da bagunça do autor. Se eu fosse definir com apenas umna palavra o traço do autor seria BAGUNÇA!! O autor tem tantas ideias em mente que quando ele forma os quadros as cenas de ação se tornam uma confusão, há informação demais, tudo isso atulhado nos quadros torna a leitura do leitor cansativa. Eu por exemplo abandonei a leitura do mangá no quarto volume de Trigun Maximum e por pouco não passei o mangá adiante sem terminar de ler. Por sorte fui perseverante e me obriguei a ler o resto do mangá, não me arrependi. Posso dizer também que o Yasuhiro Nightow evoluiu muito como mangaká durante a produção do mangá, as cenas entulhadas de informação vão diminuindo e no final do mangá já está tudo muito mais fácil de se compreender e mais organizado. É claro que as vezes ele dá umas derrapadas feias (alguém me explica os momentos finais da última luta entre o Vash e o Legato? Brinks) mesmo no final, mas mesmo assim ele melhora sensivelmente o estilo.

  Uma coisa muito legal no mangá é que há a capa que é séria e a folha de rosto onde o autor se parodia e faz uma versão zoada da capa, tem muita zoação nesse mangá. O próprio Vash é um bobão, mas é o tipo legal de bobão, se o mangá pode parecer muito solto e faltando coesão em alguns momentos, os personagens compensam isso, eles são sempre muito interessantes e cativantes. Os vilões principalmente costumam ser sensacionais, as técnicas de luta, suas motivações, os momentos de Space Opera também são um dos destaques do mangá.
  A tradução/adaptação do mangá está muito bacana, a Panini falhou com o consumidor mesmo foi nos pontos que eu já citei, Trigun foi o mangá de publicação mais irregular que já vi, com idas e voltas e pouquíssima informação divulgada na época. A edição está muito boa (o que é um milagre com a confusão que o autor fazia nas páginas...) e o acabamento está bom, não soltou nenhuma página até hoje (o único problema é o amarelamento natural das páginas. É uma coleção que dá gosto de ver completa, foi preciso muita perseverança pra continuar a comprar mesmo sem ler e com todos aqueles atrasos, hoje em dia sou feliz de ter esse mangá na minha coleção.

  Não recomendo esse mangá se você está procurando algo simples e fácil de se ler, é preciso ter saco e disciplina pra aguentar as recapitulações do momento de troca de editora, também é preciso ter muita disposição pra ler e passar minutos tentando entender algumas sequências de ação particularmente mais confusas. Mas se você tem paciência de sobra, gosta de duelos de pistola, vilões surreais, uma trama enxuta e bem amarrada e não se importa com "traço feio" vá adiante, Trigun é um dos melhores mangás já publicados nesse País.

Título: Trigun/Trigun Maximum
Autor: Yasuhiro Nightow
Demográfico: Shonen/Seinen
Gênero: Ação/Ficção Científica/Faroeste/Comédia
Formato:13 x 18cm, Quantidade de Páginas extremamente variável de um volume para outro.
Duração: 2 Tijolões e 14 Tankoubons
Preço: R$18,90 Trigun. R$9,90 Trigun Maximum até o volume 9 e R$ 11,90 do volume 10 em diante.
Periodicidade: Concluído (costumava sem muito incerta).