sábado, 16 de abril de 2011

[RESENHA] Dorothea: Caça às bruxas


  Dorothea é um shounen que foi originalmente publicado nas páginas da Dragon Age (casa de Chrno Crusade, Full Metal Panic, Full Metal Panic Sigma, Gosick, Highschool of the Dead, entre outros) da Kadokawa Shouten no ano de 2005. Não há quase nenhuma informação disponível sobre a série, ela não foi adaptada em anime, não apareceu em rankings de vendas, mas foi publicada pela CMX (antigo braço editorial de mangás da DC que foi encerrada recentemente) nos EUA e pela Asuka Comics na França. A roteirista e desenhista assina a obra como Cuvie e não possui nenhuma obra de destaque, já publicou muitos hentais em sua carreira e atualmente publica uma série ecchi chamada Nightmare Maker na revista Young Champion Retsu da Akita Shoten. A obra é composta por seis volumes completos.


  A história se passa em uma época da Idade Média não específicada e começa com um ataque de mercenários à "Casa dos Brancos" que é uma espécie de orfanato para crianças albinas. Os mercenários estavam felizes, pois poderiam fazer o que quisessem já que os albinos são pagãos e com isso eles poderiam roubar toda a comida e dinheiro que quisessem sem cometer nenhum crime. No entanto uma figura envolta em capuz consegue derrotar boa parte dos mercenários, e quando o capuz cai eles descobrem se tratar de uma garota albina de "olhos demoníacos". Essa garota é Dorothea Eschenbach, a protagonista de nossa história, ela é cercada pelos mercenários que estão em grande vantagem numérica,mas  a moral dos atacantes é abalada quando eles descobrem se tratar de uma "bruxa", quando eles estão prestes a encurralar e derrotar de vez Dorothea aparece Gyurk Frundsberg, amigo de infância de Dorothea que está voltando de uma viagem de dois anos.
  Logo somos apresentados ás tradições de Nauders, "país" onde vive Dorothea, nesse país é costume proteger as crianças brancas, elas são consideradas sinal de boa sorte (mas só lá, no resto de toda a Germânia elas são consideradas bruxas ou servos mortos-vivos de bruxas). Gyurk traz más notícias, Nauders está correndo risco de ser atacada pela nação vizinha, Ems que quer anexar o território de Nauders ao seu.
  Dorothea e Gyurk haviam combinado que ele viajaria e ela permaneceria em Nauders, e quando ele voltasse teria que contar as histórias de suas aventuras pelo mundo, Dorothea por sua condição jamais pode sair de Nauders. Só que Gyurk não quer compartilhar esse período de sua vida com Dorothea, ele se envergonha dele, ele é tão mercenário quanto os atacantes de pouco tempo atrás e não tem orgulho disso, não há nada de nobre naquilo que ele faz. Dorothea aprendeu a lutar com a espada para poder atuar como "Sacerdotisa da Espada" (não há explicações sobre o que é isso durante esse volume), oficialmente, na verdade ela foi ensinada a manejar a espada para poder defender a casa dos brancos dos ataques.
  Os brancos são pagãos, eles adoram à Natureza e a reverenciam como uma Deusa. A Casa dos Brancos é chefiada pela Madame Schanzgard que é chamada de Sybilla (o problema aqui é que não dá para entender se é o nome ou um título) pelo povo de Nauders e de vovó pelas crianças da Casa dos Brancos. Ela é a adivinha da região e uma figura de poder, o rei Cristão recentemente coroado odeia os brancos e apesar de se recusar a atender os pedidos de Madame Schanzgard exige os seus serviços como profetisa.
  Para proteger todos da Casa dos Brancos Dorothea tem que partir em uma jornada para conhecer o mundo, mas para poder se juntar ao grupo de Gyurk ela tem que derrotá-lo em um combate de espada.

  Eu gostei muito de Dorothea, talvez eu tenha criado expectativas altas demais para o mangá, mas ele me agradou imensamente. Em sumo o mangá trata do conflito masculino x feminino, novo x velho. Os brancos que residem há muito naquela região estão sendo ameaçados pela expansão do cristianismo, ao mesmo tempo a religião pagã que sempre foi associada ao lado feminino, com representantes femininas (a sacerdotisa da espada, a sybilla...) contra o novo mundo da igreja romana que é regida por homens (reis, padres). Dorothea precisa o tempo todo empunhar a sua espada para provar o seu valor, afinal ela saiu de sua casa para viver em um mundo controlado pelos homens, até mesmo seu melhor amigo Gyurk é paternal e tenta protegê-la da realidade injusta do mundo e não confia em suas habilidades de combate (ao menos em um primeiro momento). Outra coisa muito legal sobre esse mangá é que nós vemos os governantes que se preocupam mais em gastar todo o dinheiro em exércitos para aumentar seus territórios do que em combater os ladrões que atacam o povo. É mais fácil os governantes deixarem o povo continujar ignorante queimando "bruxas" ou "monstros" do que colocar os soldados para defender a segurança do povo que o sustenta com seus impostos. Eu não esperava tanto desse título, ele me surpreendeu e agradou tanto quanto Guin Saga e Astral Project. Uma das coisas que gosto na Panini é que ela traz esses títulos quase desconhecidos, que em sua grande maioria são belas surpresas.

  O fanservice no primeiro volume desse mangá é quase inexistente, o que me surpreendeu muito sabendo do background da autora que praticamente só publica ecchis e hentais, me incomodou um pouco ver a Dorothea de minissaia, afinal ela é albina e não pode ficar com a pele exposta ao sol, por outro lado ela é uma guerreira e precisa ter liberdade de movimentos e ao que eu saiba (e eu sei muito pouco de Idade Média) mulheres não usavam calças naqueles tempos, em compensação também não lutavam, o único exemplo de que me lembro é Joanna D'Arc (e apesar das comparações que pipocam no Orkut eu não vi semelhança nenhuma com a Dorothea além de ambas lutarem por sua terra natal). Uma é cristã e insana, a a outra é pagã e sã (até o momento, pelo menos). Apesar de haver menções a bruxas na história a unica menção de fato ao tema é que a Madame Schanzgard é uma profetisa e teria um dom de visão de futuro, o que até agora no decorrer da trama não foi provado como um poder místico verdadeiro ou apenas inteligêcia e conhecimento político. E até o momento as bruxas da história são apenas pessoas diferentes das que têm uma pigmentação normal.


  Sobre a edição nacional os elogios não são tantos assim, a capa ficou bem feia, a capa original era linda e foi adaptada para o formato "quadradão" (13x18cm), colocaram uma cor roxa com uma retícula com padrão meio gótico, mas o conjunto não casou muito bem. Na segunda capa havia a continuação da imagem, mas a Panini Brasil preferiu esquecer dela e simplesmente jogar a imagem da orelha na segunda capa. Outra coisa que não gostei foi a fonte do título e subtítulo, o título deveria ser bem maior e o efeito de "pedra" na letra é de gosto duvidoso, também gostaria que o título fosse todo em caixa alto para chamar atenção, mas isso sou eu sendo chato, o subtítulo ficou muito grande, quase do mesmo tamanho do título, isso também é ruim. Eu traduzi o título e subtítulo na ferramenta do google (é fail, eu sei) e ele disse que seria algo como "O martelo da bruxa", para quem não conhece O Martelo das Feiticeiras é um documento real que era usado pelos inquisidores e sobreviveu até hoje (disponível na biblioteca pública mais próxima), de qualquer forma Caça às bruxas casou bem com o clima do mangá, até mesmo pelo duplo sentido. Outra coisa que gostei nesse título em especial é que como a história se passa na Europa Medieval não há honoríficos. Eu defendo o uso de honoríficos em histórias que se passem no Japão, mas em histórias que se passam fora do Japão o ideal é que os honoríficos sejam evitados mesmo.
 A edição de imagens está mediana, não há nenhum erro grosseiro perceptível, mas há "esfumaçados" demais, ao invés de refazer os quadros preferiram deixar os esfumaçados e com isso há os textos fora do balão e o espaço aberto gigantesco. No original (e aqui eu não sei se foi na versão encadernada ou no encadernado japonês) havia páginas coloridas, infelizmente as páginas que foram transformadas em preto e branco ficaram muito ruins, mal dá para se perceber o que se passa nessas cenas. O traço da autora é competente, eu esperava mais do traço por ela ter vindo do hentai, mas ele cumpre a função, o único problema que eu vi foram uns poucos traços tortos e alguns desenhos fora de proporção (a mão do pai do Gyurk e a proporção pernas/torço de um homem). Na segunda capa a Dorothea também não parece muito bonita. A censura 14 anos me pareceu estranha, a Dorothea esfaqueia diversas pessoas com sua espada durante esse primeiro volume.

  Enfim, eu recomendo, recomendo mesmo, seja para uma leitura leve e descompromissada ou para uma leitura mais séria. Com o embate entre pagãos x cristãos, homem x mulher esse mangá me lembrou um bocado de As Brumas de Avalon (tomadas as devidas proporções, é claro) que é uma das minhas leituras favoritas de todos os tempos.

Título: Dorothea: Caça às bruxas, Dorothea: Mahou no Testtsui (ドロテア~魔女の鉄鎚~)
Autora: Cuvie
Formato: 13 x 18, 170 páginas em média
Duração: 6 volumes
Periodicidade: Bimestral
Preço: R$9,90
Demográfico: Shounen
Gênero: Ação, Guerra

22 comentários:

Matt disse...

Adorei a resenha, mas não gostei muito do mangá.

Concordo sobre o que falou do traço da autora xD
E a capa original é tão mais kawaii D:

Eu nem tinha reparado na edição da Panini os "esfumaçados"... agora peguei pra ver e tem mesmo -q
Não sou de reparar nessas coisas x_x

Achei o mangá fininho =/
MasOK xD

E pelo resumo, o próximo será melhor que esse. Pretendo comprar XD

Unknown disse...

Parabéns, você se superou, adorei a resenha e eu tava mesmo em dúvidas se comprava ou não, mesmo gostando do tema e você me deixou com uma enorme vontade de folhear o mangá agora mesmo. Excelente post;

Kuroi disse...

Puxa, Matt, obrigado, sugiro a você dar uma relida, sempre tem aquelas coisas que a gente não repara em uma primeira leitura e depois percebe.

Muito obrigado, Roberta Caroline, eu recomendo comprar pq gostei muito, se você curte a temática leia mesmo, na minha opinião foi uma das belas surpresas da Panini esse ano.

Yuri lucas disse...

Gostei do mangá, mas esperava mais! É ruim quando criamos muita expectativa... Mas a resenha ficou ótima.

Kuroi disse...

Valeu, Yuri, eu acho que ficou meio confusa, mas também não sei por onde começar para deixar as coisas mais organizadas, é informação demais. o/

Unknown disse...

Como assim 11 volumes? eu tinha visto em todos os lugares que seriam apenas 6.

Unknown disse...

Como assim 11 volumes? Tinha visto em varios lugares que seriam apenas 6.

Kuroi disse...

Desculpe, já arrumei, é que eu dei ctrl+v, ctrl+c na ficha técnica. Falha minha.

Johnny disse...

Assim, gostei do mangá.
Mas achei bem enrolado o início.
Pensei que seria algo mais "viciante".

Bem, vou pensar se continuarei a comprar =P

marinalans disse...

Comprei o mangá esses dias, e ainda não tive tempo de le-lo inteiro. Estou na pagina 22, e confesso que estou com espectativas quanto a essa historia :]

Sinceramente... eu não leio um mangá bom desde o naruto nº1, (o que me levou para o mundo dos mangás);
Depois do Naruto, já li varios, e nenhum me agradou tanto quanto aquele... aí compro um, pra ver se é legal, e não tem emoção nenhuma... ou é bobo demais, enfim... to na crise de achar um mangá que me agrade para acompanhar a história :x

Vamos tentar com esse! *-*
(assim que eu ler esse, volto para comentar)

Kuroi disse...

Puxa, de Naruto pra Dorothea tem uma distância abismal, se vc curte ninjas é capaz de curtir mesmo o Brave 10 ou Basilisk que deve sair em breve também pela Panini.
De qualquer forma espero que goste, eu gostei bastante.

Kuroi disse...

Puxa, de Naruto pra Dorothea tem uma distância abismal, se vc curte ninjas é capaz de curtir mesmo o Brave 10 ou Basilisk que deve sair em breve também pela Panini.
De qualquer forma espero que goste, eu gostei bastante.

Gabriel disse...

Comprei esse mangá segunda e gostei muito a Dorothea é massa demais uma grande heroína de ação fazia algum tempo que não via uma assim

Ulysses disse...

pela resenha parece quase uma versão com mais ação das brumas de avalon (que é uma versão do conto do Rei Arthur).

Kuroi disse...

Ulysses, não tem tanto a ver com Brumas não. As semelhanças estão apenas nas protagonistas fortes, paganismo e por se passarem na Idade Média. A semelhança tem mais a ver como "clima" da história do que com o roteiro. Não tem nada da corte do Arthur no mangá.

Kuroi disse...

Que bom que você gostou, Gabriel, eu amei esse mangá também.

Ulysses, não tem muito a ver com "Brumas" na história, mas o clima é bem parecido (só que em Dorothea nenhuma magia "de verdade" apareceu até agora, Brumas é mais fantasioso).

Verônica disse...

Eu vi esse mangá na banca de revista e fiquei pensando se comprava ou não, fiquei com medo de não valer a pena, mas pela sua resenha a história parece boa e decidi comprar.

E eu queria saber de quanto em quanto tempo vão sair os volumes?

Kuroi disse...

A periodicidade provavelmente é bimestral, com seu comentário lembrei que não coloquei isso na resenha, preciso consertar.

Verônica, se você gosta de capa e espada com mulheres protagonistas eu recomendo, mas as opiniões que eu ando escutando são bem divergentes, algumas pessoas amam e outras odiaram. Aconselho a dar uma olhada no material antes de se decidir.

Cezar Otaku disse...

achei o volume 2 na banca de jornal mais proxima pena que não tinha o volume 1 :/ li o volume 2 e gostei bastante , gosto de naruto mas pra mim Dorothea empata com naruto , gosto da epoca dos feudos e guerras medievais :) aconselho

Damy disse...

Eu comprei o volume 3 (ja havia lido os outros 2 emprestado de uma colega) e concordo sobre os traços.. quando vi Gyurk, pensei que fosse apenas um garoto.. homem não. q
Não gostei muito do roteiro também... não sei se é a tradução mas, enfim.. eu vou continuar lendo :D'

Kuroi disse...

Difícil diferenciar "garoto" de "homem", na idade média um rapaz de 13 anos seria considerado um homem, hoje em dia são considerados criancinhas que não podem pagar pelos seus crimes.

Bom, não sei como alguém pode não gostar do roteiro, acho um excelente mangá. A tradução se não me engano é da Drika Sada, e ela é a melhor tradutora de mangás em atividade no país.

Dennis D! disse...

Boa noite, comprei essa mangá quase por acaso e a história é bem interessante. Ao contrário de vcs esperava menos... e estou ansioso pelo numero 5. Claro que descontando alguns erros históricos, afinal Alemanha e Itália só vão existir por volta de 1870, recomendaria a leitura.