sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Uglies/Feios da Netflix

 


  Alguns meses atrás a NETFLIX anunciou que lançaria uma adaptação da série de livros FEIOS/UGLIES escrita por Scott Westerfeld e lançada entre 2005 e 2007. 
 Eu estava aguardando ansiosamente, finalmente havia chegado a hora de uma das séries de livros que eu gosto ganharia a adaptação tão merecida... apenas para esta adaptação ser uma grande decepção.

  E onde começa a decepção? Para falar a verdade eu coloquei muita fé na Netflix, pois quando ela quer faz belíssimos trabalhos de adaptação, Sandman e One Piece são exemplos de belas adaptações, mas este não foi o caso com a série FEIOS.
  Onde começa o problema? O primeiro problema é que o filme parece ter sido feito a toque de caixa, efeitos ruins, cenários fracos, até parece que gravaram tudo na tela verde e jogaram uns fundos mequetrefes ou reutilizaram cenários de outras produções de sci-fi que não combinam com a estética da série. Mas esse é um problema que é fácil de se relevar quando a adaptação é boa, o roteiro é bom e a criatividade e a imaginação conseguem anular a falta verba para o filme, o que definitivamente não é o caso dessa adaptação.
  A adaptação da NETFLIX cortou partes essenciais da história. Primeiro de tudo é que os FEIOS não são feios de verdade, são pessoas normais, são adolescentes normais que sonham em passar por uma bateria de cirurgias plásticas para parecerem vítimas de excesso de cirurgias plásticas. Já os "feios" que a Netflix quer forçar a gente acreditar que são adolescentes com problemas de auto-estima são na verdade jovens adultos de Hollywood lindíssimos sem nenhum defeito que nem conseguem se passar por adolescentes de 16 anos. A Joey King que é a protagonista é a que parece mais jovem no elenco e tem cara de estar beirando os 20 anos de idade, o galãzinho Chase Stokes já parece ter passado dos 25, não tem como convencer como um adolescente de 16 anos em momento nenhum do filme, já o Keith Powers é simplesmente bonito demais para ser o David, não convence como feio com aquele abdomen trincado aparecendo pela blusa transparente.
  O principal problema do roteiro é que ele NÃO FAZ SENTIDO se você não leu os livros previamente, pois tudo é apressado demais, as conexões entre as personagens não acontecem no filme, as amizades não são construídas, as relações de confiança não são desenvolvidas, todo mundo se conheceu cinco minutos atrás e já coloca a vida em risco um pelo outro. Até que a adolescência é assim, mas não tanto.
  A construção de mundo é péssima, não tem cenas em número suficiente para mostrar o quanto os feios acreditam serem feios e o quanto eles acreditam precisar de cirurgias plásticas. Esse é um dos temas principais e mais importantes da série de livros e não foi abordada de forma suficiente, nos livros é uma verdadeira lavagem cerebral que as crianças sofrem desde que aprendem a falar, o quanto é importante para os feios passar por essa cirurgia que vai trocar cada folículo de cabelo do seu corpo, trocar seus dentes por lentes feitas de porcelana de naves espaciais resistentes a qualquer impacto e trocar até mesmo os seus globos oculares, cabelo e pele de qualquer cor imaginável.
  Uma das cenas mais marcantes do livro é quando a Tally Youngblood, protagonista da série, encontra uma revista de moda e se choca com a magreza anoréxica das modelos dos nossos tempos e de como ela fica encanta com as vítimas de excesso de plásticas, mas tudo isso foi apagado pela versão da Netflix, talvez por não concordarem com essa visão.
  Outra coisa decepcionante é como eles pintaram o mundo em versões radicais, polarizadas, só existem duas opções: A cidade ou a Fumaça, quando no livro há diversas outras cidades independentes com variados graus de tolerância com a Fumaça (inclusive a Tally pensa em fugir para viver em uma dessas cidades).

  A questão central da série de livros em que se baseou o filme da Netflix é: vale a pena sacrificar o mundo pela liberdade de pensamento ou possuir uma consciência livre é mais importante do que cuidar do planeta? E isso não existe nessa versão que foi feita para ser apenas mais uma versão inócua de Hollywood, matar qualquer possibilidade de pensamento crítico.